Thursday, November 15, 2007

Da janela lateral do quarto de dormir

---Será que esta beleza toda sempre esteve aí e eu estou mais contemplativa? O período longe de um trabalho formal (o tal do emprego) está me fazendo tão bem! E não dá nem para dizer que estou sem fazer nada, porque as atividades não faltam! Cursos e consultas de tarot, o círculo feminino, o artesanato, o jardim e as ervas mágicas, o curso de roteirização e os novos contatos que surgiram a partir dele (e todas as possibilidades de projetos a serem desenvolvidos)... Enfim, tantas emoções...rs
---É muito bom poder acordar, a cada dia, com expectativas novas, com tempo para ser administrado de acordo com as minhas prioridades e não com as ordens do patrão. É prazeroso aproveitar o final de tarde para fotografar todos os céus e todas as nuvens disponíveis, nos mais variados tons. É reconfortante poder ficar do lado de dentro de casa, o lado quentinho, olhando a chuva bater na vidraça com a violência típica das tempestades de verão (que neste ano resolveram chegar na primavera). Não tem preço a possibilidade de ficar tão próxima da família, podendo conversar, brincar, cuidar das pessoas que amo. É divertido fazer comidinhas gostosas e ficar esperando o momento da primeira garfada, a hora em que o Fê faz aquela cara de "pára o mundo agora, só pra eu sentir este sabor!" É gostoso preparar um jantar surpresa para que o filhote pergunte: "o que está acontecendo? Pra que isto tudo?", apontando a mesa arrumada e as velas acesas.
---Procuro aproveitar cada um desses momentos, sem a ansiedade do apego, sem aquela angústia de contar dias, semanas, meses, sabendo que daqui a pouco serei chamada e terei que fazer parte, novamente, da massa que segue, como robôs, a caminho do trabalho todo dia de manhã (e ainda agradece a Deus por ter um emprego, afinal, quanta gente por aí desempregada). Eu não faço parte deste mundo, não faço parte da mediocridade, não faço parte da cultura robótica. Não sou cega. Não morri. E fico mesmo assustada ao observar a forma com que as pessoas vivem e acreditam, de verdade, que não há outro jeito.
---Estamos aprisionados, escravizados, condicionados. Realmente acreditamos que para viver é preciso entregar a alma junto com a carteira de trabalho e nem ao menos percebemos que, ainda assim, mesmo abrindo mão do tempo para ficar com quem amamos, tempo para aprender mais, tempo para cuidar da saúde e do bem-estar, o máximo que conseguimos é sobreviver, não viver.
---E, sinceramente, não sei o que é pior: viver assim e achar normal ou despertar.
---Quero ser livre. Ninguém perguntou como eu queria viver. Ninguém quis saber quem eu sou, o que quero da vida ou quais são meus sonhos. Como dizia Don Juan: não honro acordos dos quais não participei.

Tuesday, October 30, 2007

Atendendo ao pedido da Debby!

A quinta frase, da 161ª página de "O Presente da Águia":

"Elas não se pareciam"

E fico curiosa imaginando quem não parecia com quem (???), já que não cheguei nesta parte do livro ainda...rs

Sunday, October 21, 2007

Quantas máscaras teremos que usar para chegar onde tudo começou?

---Quantas camadas devem existir entre a coisa mais parecida com nossa essência e o que mostramos por aí? Sempre que remexo o baú das lembranças, sempre que me disponho a olhar de frente para minha forma de sentir e pensar, fico perplexa!Existem máscaras e máscaras e máscaras sem fim...
---O processo de desarmamento interno é duro, doloroso. O processo de se entregar ao outro, sem medo, sem "plano B" então... nem se fala! Um longo aprendizado!
---Depois da experiência de ontem, do sonhar da madrugada e da leitura de hoje concluo o óbvio: a mudança está sempre em nós. Não há como mudar o outro diretamente. Não temos o direito e nem o poder de mexer no outro, em suas crenças, sentimentos e decisões. Mas podemos olhar para dentro, modificar nossos próprios padrões de comportamento e pensamento. Podemos focar naquilo que queremos para a nossa vida. É verdade, não é lenda: o mundo muda se você muda.
---Acredito mais nisso a cada dia! Não como uma forma de crença aleatória... Acredito porque tenho testado e colhido os resultados. O mundo é misterioso... E ficamos insistindo em receber respostas racionais e lógicas em relação aos processos que nos cercam. Acontece que ainda não conseguimos explicar as nossas próprias ações e emoções, como poderemos explicar algo que sai do nosso corpo-limite?
---O ser humano repete sem parar os caminhos já conhecidos-percorridos. Sua dependência de coisas conhecidas é tão doentia que ele prefere repetir o que traz dor (ao menos é uma dor conhecida) do que arriscar no novo, que pode trazer alegria e contentamento. Que segurança é esta que buscamos?
---Não queremos ser manipulados, mas queremos determinar exatamente de que forma as coisas acontecerão. Não queremos que nos dêem ordens, mas queremos ordenar exatamente o grau de importância de sentimentos, conceitos e outras coisas abstratas para que eles recebam maior ou menor atenção em nossa vida corrida.
---Ao invés de ficar brigando com tudo e todos, prefiro ser a Senhora do meu próprio Reino Interior. Neste lugar eu poderei retirar todas as máscaras, as camadas de mágoas e ressentimentos, as frustrações que tiram o brilho dos olhos, as decepções que nos afastam do amor, a dor que leva à letargia... Então, magicamente, a transformação virá. E haverá um tempo em que não mais saberei onde termina meu Reino e onde começa o mundo (chamado) real. E ao invés disso ter o nome de loucura, insanidade... isto será lucidez... sábia lucidez...

---(Obrigada, Lilia, que tem me mostrado as placas indicativas no caminho da lucidez)

Saturday, October 06, 2007

Vincent (Don Mclean)

"Estrelada, noite estrelada

Pinte sua paleta azul e cinza

Olhe ao redor em um dia de verão

Com olhos que conhecem a escuridão em minha alma

Sombras nas colinas

Rabisque árvores e narcisos

Pegue a brisa e o frio do inverno

Em cores das plantações de algodão cobertas pela neve

Agora eu entendo

O que você tentou me dizer

E o quanto você sofreu pela sua lucidez

E como você tentou libertá-los

Eles não ouviriam

Não sabiam como

Talvez agora ouçam

Estrelada, noite estrelada

Flores flamejantes que resplandecem

Nuvens rodopiando em um nevoeiro violeta

Refletem nos olhos azuis porcelana de Vincent

Cores mudam de tonalidade

Campos matinais de grãos ambarinos

Rostos marcados pelo tempo alinhados em dor

São suavizados pelas mãos amorosas do artista

Agora eu entendo

O que você tentou me dizer

E o quanto você sofreu pela sua lucidez

E como você tentou libertá-los

Eles não ouviriam

Não sabiam como

Talvez agora ouçam

Pois eles não conseguiam te amar

Mas mesmo assim seu amor era verdadeiro

E quando não havia mais esperança naquele estrelada, noite estrelada

Você tirou sua vida como normalmente fazem os amantes

Mas eu poderia ter-lhe dito, Vincent

Esse mundo não foi feito para alguém tão bonito como você

Estrelada, noite estrelada

Retratos pendurados em salas vazias

Desmoldurados em paredes anônimas

Com olhos que observam o mundo e não conseguem esquecer

Como aqueles estranhos que você conheceu

Homens esfarrapados, em roupas esfarrapadas

O espinho prateado da rosa ensangüentada

Estende-se esmagado e quebrado na neve virgem

Agora acho que entendo

O que você tentou me dizer

E o quanto você sofreu pela sua lucidez

E como você tentou libertá-los

Eles não ouviriam

Ainda não ouvem

Talvez nunca ouvirão"


Monday, October 01, 2007

A Língua do P

---Não existe destino e nem fatalidade, afirmam alguns... No entanto, percebo que certos questionamentos e certas situações parecem dar voltinhas durante algum tempo, para depois retornarem ao centro da nossa testa, também chamado de ajna ou o chakra da visão, ou seja, retornam ao mesmo lugar de onde - parece - nunca saíram, o nosso foco, a nossa atenção.
---Tenho uma boa coleção de assuntos/questionamentos assim, tipo bumerangue, que atiro para longe, mas ele insiste em retornar. Um deles diz respeito ao que eu chamo de “vocabulário de gueto” também conhecido como linguagem cifrada para enganar trouxa ou ainda método de aquisição de poder através da criação de dialetos.
---Desde que entrei neste estranho mundo dos concursos públicos, encontrei pilhas de critérios de seleção para questionar e mais outras coisinhas meigas que classifiquei de “a forma mais eficaz de eliminar pessoas que poderiam ser ótimos funcionários”. Até aí, tudo bem... A idéia não é conseguir excelentes funcionários públicos (vide a maior parte dos serviços públicos à disposição dos cidadãos), a idéia é se livrar do maior número de “chatos que insistem em achar que podem passar” o mais rápido possível! E tenho perfeita consciência de que só consegui passar no concurso da Prefeitura sem nem ter estudado muito, porque a relação candidato/vaga estava de 54 pra 1, ou seja, havia poucos chatos que insistem em achar que podem passar a serem eliminados.
---Mas, acompanhando o Fernando na prática desse estranho esporte chamado estudar para concurso, fui obrigada a dar de cara – de novo!!! – com aquele velho conhecido, o vocabulário de gueto. A razão é fácil de compreender: adentramos o Judiciário!(pelo menos estamos tentando) E aí, mesmo que você não esteja pleiteando um cargo específico para advogados, é preciso estudar as Leis (e que saudade dos 10 Mandamentos!)
---Sério... Sem piadinhas... Deus que é Deus, que não precisou fazer concurso para assumir o cargo, é bem claro nas suas Leis. Em primeiro lugar, são só 10, (oni) ciente que Ele é de que o ser humano tem memória curta. Ou seja, 10 é um número redondinho! Não dá muito trabalho para decorar e, portanto, não será necessário depois jogar na cara que mesmo aquele que não tem ciência da existência da lei está sujeito as suas penalidades. Em segundo lugar: essas 10 Leis são aplicáveis em todo o território global, não possuem exceções, emendas, incisos... e o principal: são extremamente democráticas, todo ser humano está sujeito a elas e não adianta alegar laço de parentesco com algum figurão, porque afinal somos todos filhos do Chefe Supremo.
---Mas o ser humano, que se acha maior e melhor que o próprio Deus, bem chegadinho a um exagero, resolve não somente fazer uma tonelada e meia de leis. Não... Isso não seria suficiente! Ele quer que ninguém entenda nada mesmo, pra ele poder chegar depois e punir... ou ganhar alguma coisa em troca para não punir. Então ele inventa o direitês, da mesma forma que inventou o economês e o mediquês.
---Tudo bem que existem outras línguas deste tipo, outros vocabulários de gueto, mas esses três, convenhamos, são os que mais se destacam! Merecem mesmo uma medalha de honra ao mérito (de enrolar os outros). Coincidência ou não, tanto os advogados quanto os médicos são os únicos profissionais com nível superior (graduação) que fazem questão de serem chamados de Doutor e ninguém acha ruim. Para nós, pobres mortais diplomados em outras profissões, é necessário ralar num mestrado e depois num doutorado para conseguir o mesmo chic tratamento. Se eu fosse economista, exigia também o direito ao Dr., afinal, eles conseguiram elaborar um dialeto que não deixa nada a desejar em relação aos outros dois.
---E a verdade é que eu ando meio de saco cheio dessa Língua do P de gente grande. Sinceramente, eu acho que a finalidade é a mesma da língua engraçada que costumamos utilizar na infância, ou seja, criar uma linguagem que só os nossos amiguitos entendem e assim ganhamos força, ganhamos “corpo” (ra-ti-vis-mo), ficamos mais importantes que os outros bobões que não entendem o que estamos falando.
---Minha falta de paciência para este tipo de coisa se explica através de diversas teorias, mas minha preferida é o fato de eu ser (com licença) profissional de comunicação e ter plena consciência de que escrever bem não é escrever difícil... quem sabe de verdade algo consegue transformar aquele conhecimento complexo em algo digerível para quem não é especialista... e também, e não menos importante, o que distingue alguém muito bom no que faz do resto da humanidade, não é a capacidade que tem de complicar aquilo aos olhos alheios, mas é fazer o simples de uma forma absolutamente única.
---Isso se aplica a praticamente tudo! Tenho um exemplo que carrego sempre na manga: fazer comida gostosa usando creme de leite e camarão é fácil! Quero ver fazer comida gostosa usando cenoura, chuchu, batata e uns temperos do quintal! E isso também tem a ver com o conceito de que o valor não está no “o que”, mas no “como” e o “como” cada um terá o seu, de uma forma muito peculiar.
---Mas quem vai compreender esta sutileza? (Quem? Quem?) Com certeza, não será alguém que acredita que o “dê-érre” antes do seu nome faz dele alguém diferenciado, melhor que os outros. Também não creio que será alguém que acredita de verdade nos critérios de provas, testes, concursos e competições de conhecimentos em suas diversas modalidades. Talvez por isso, apesar de aprovada e prestes a ser nomeada, ainda me atrai a possibilidade de passar mais uma vez, e outra e outra... Só pra ganhar no campo do adversário. É a pequena porção de guerreira menina super-poderosa que existe aqui dentro.

Sunday, September 23, 2007

A vida começa aos 40!

---Passei muitos anos da minha vida agindo de uma forma que julgava ser a perfeita ou a perfeita para os outros (que são coisas distintas) e me esqueci de agir de uma forma perfeita pra mim (que é uma terceira coisa). O resultado não poderia ser pior: não era bom pra ninguém! Muito menos perfeito! Cerca de 100% de insatisfação na estatística...rs
---Nossas escolhas acontecem, normalmente, baseadas em falsas premissas ou premissas artificialmente criadas. Se isso acontece de forma consciente ou inconsciente, aí já é outro detalhe. Mas a verdade é que de um modo geral não fomos criadas para ter um propósito de vida, não fomos criadas para atender ao chamado da nossa essência, as exigências da nossa alma, e por isso acabamos sempre nesta situação: perdendo muito tempo (anos, décadas) com uma forma de vida que nada tem a ver com o que somos ou o que queremos. Depois disso, ainda temos que enfrentar um outro período de tempo para acumular coragem de mudar.

---Eu comecei a perceber o processo todo em torno dos 30, mas ainda foram precisos uns 5 anos quebrando a estrutura existente (separação, realinhamento de metas de vida, reavaliação profissional) e mais uns outros 5 anos para me reerguer como pessoa, porque nessa quebradeira necessária a gente também se quebra, se machuca... Eu diria que agora, aos 40 anos, é que estou dando início à vida que realmente faz sentido, àquilo para o qual nasci. Então, pelo menos pra mim, o velho ditado faz sentido: a vida começa aos 40!

Friday, September 14, 2007

AF e DF

---Certa vez, meu sábio amigo Ronald Fucs (que ele não me leia, senão ficará todo bobo! rs) afirmou, com um grau de seriedade incomum: "a vida das pessoas se divide em antes dos filhos e depois dos filhos!" Segundo ele, essa experiência mágica e transcendente transformava seres naturalmente preocupados com o próprio umbigo em criaturas mais conscientes da existência do outro, menos egoístas, mais generosas.
---Passado tanto tempo, e hoje com um filhote de 14 anos, sou obrigada a concordar com meu querido amigo. Não é que o fato biológico, puro e simples, seja capaz de tal transformação... até porque conhecemos criaturas que tiveram filhos mas não são mães, nem pais... No entanto, quando a maternidade e a paternidade acontecem, de verdade, elas mudam a nossa perspectiva de vida de forma avassaladora. Talvez seja esse o espetacular momento em que a pessoa mais importante do mundo não pode ser mirada somente em frente do espelho, aliás, normalmente ela dorme o sono dos justos, o sono dos anjos, aquele que ficamos velando como bobos.
---Nunca fui lá uma criatura de muitas frescuras... Mas depois que o meu filho nasceu percebi como certas coisas que parecem tão importantes no A.F. viram tolices no D. F. Como costumava dizer, uma pessoa que é capaz de me acordar três vezes por noite e não sofre uma agressão, nem que seja verbal, com certeza é muito especial.
---O tempo passa e vamos aprendendo a abrir mão do último pedaço do doce favorito, do lugar mais confortável, do tempo para ficar só, das saídas noturnas diante de um rostinho triste, do sono quando a dor de garganta ataca de madrugada... E percebemos que a felicidade de outra pessoa pode ser mais importante do que a nossa e a alegria de outra pessoa pode nos deixar mais felizes.
---É claro que também é preciso ensinar os filhos a compartilhar, a compreender as necessidades dos outros, inclusive dos seus pais. É preciso mostrar os primeiros rascunhos do que você já aprendeu e no futuro ele aprenderá: que o próprio umbigo não é o sol da humanidade. Mas não há dúvida que somente quem aprendeu o amor aos filhos consegue ter um vislumbre do amor divino, do amor essencial e desapegado. Tudo bem... é só um vislumbre... uma olhadela pelo cantinho da cortina levantada... Mas já é alguma coisa, algo a mais que o próprio reflexo no espelho.

Na moda, ou não...

---Esse período em casa tem me deixado muito reflexiva...Nesta fase de reavaliar tantas coisas na minha vida, tenho pensado que me incomoda muito a sensação de estar sempre atrasada. Talvez o fato de não ter tido a ousadia e a iniciativa de fazer certas coisas na época certa me colocaram pra fora de um processo que hoje floresce, frutifica, “virou moda”, tá no topo.
---Nos meus tempos de 17 anos, tinha três grandes paixões: cozinhar e criar novas receitas, pensar em novos objetos e novas utilidades para eles na decoração de uma casa e criar modelos de roupinhas (que nunca aconteciam de verdade, porque eu não sabia desenhar direito e, portanto, a costureira não podia ver meus pensamentos). Naquele tempo essas coisas eram chamadas de passatempo, algo pra fazer nas horas vagas. Então, quando fui escolher qual faculdade fazer a opção óbvia pareceu ser Comunicação, pois minha facilidade para escrever somada ao poder de observação e análise pareciam ser os ingredientes perfeitos para a profissão.
---Hoje, meus passatempos viraram profissões chics, bem posicionadas e rentáveis. Também ganharam novos nomes: Gastronomia (também tem a irmã pobre, Nutrição), Design de Ambientes e Moda, todos com direito a curso de graduação, pós-graduação e outras sofisticações. Sei que não se vive de “se”, mas...
---Pegando carona nestes pensamentos, também percebi que tenho um certo talento metafísico de prever movimentos culturais. Não, não é uma questão de estar antenada com locais de agito ou utilizar as cartas de tarot para prever as tendências. Simplesmente acontece! A última agora foi em relação a algo tão íntimo e pessoal quanto minha vida doméstica. Venho passando por transformações profundas, questionamentos antes inquestionáveis sobre: trabalho, carreira profissional, casa, família, talentos, gostos... Descubro que desejo muito mais um caminho de beleza, criatividade e extremamente doméstico, do que a tal carreira profissional de sucesso, para logo em seguida descobrir que não sou só eu. Caramba! As mulheres estão na contramão da história!
---Não sei se não estava mais satisfeita sozinha. O problema agora é esse negócio virar moda e eu ficar só na moda ao invés de ficar só na minha. Não que isso também seja problema, mas não confere com a realidade.
---Já que o plano A e o plano B já se foram, vamos agora para o plano C – de Cláudia – o plano para viver a minha vida, do jeito que quero e gosto.

Friday, August 31, 2007

Muitos eus em ação

---Encontrei esta foto em um dos sites por onde passei (não me lembro qual, que vergonha!) E achei muito perfeito, porque somos fragmentados, temos vários "Eus", como o Fernando vive me lembrando aqui! Mas, eu costumo ponderar: se unificar todos eles e encontrar o seu Eu Superior ou Eu Integral é tão complicado, que ao menos consigamos fazer com que essa galera reme o barco para o mesmo lado ;-)
---Tenho entrado em acordo com os meus eus. Às vezes eles são meio rebeldes, mas de um modo geral têm conseguido trabalhar em equipe.
---Então, resolvi criar espaços específicos para pelo menos três deles: o eu escritor viajante, o eu tarólogo e o eu "prendado", que adora cozinhar, mexer na terra, fazer artesanato e coisas de mulherzinha. Tenho o prazer de apresentá-los a vocês:
A moça escritora: pitacosdamorgye@blogspot.com (você já está aqui!)
A mulher prendada: bichofofo@blogspot.com
A anciã dos mistérios: viatarot@blogspot.com
Tem mais gente aqui dentro, mas por enquanto só essas três têm direito à publicidade...hehehe

Thursday, August 23, 2007

Vejo flores em você!

---Estou adorando esse negócio de artesanato. Passei a infância e a adolescência ven- do minha mãe fazer coisinhas coloridas e nunca me interessei pelo assunto. Mas há alguns anos o gen do artesanato co- meçou a dar as caras. E como a coisa é genética, não tenho muito como fugir.
---Obrigada, mãe! :-)))
---Estava reparan- do agora mesmo que eu, que sou jornalista e sempre fui mais escritora do que qualquer coisa, ando escrevendo menos e postando mais os meus feitos artísticos ou a natureza que me cerca. Acho que estou trilhando o caminho do abstrato para o concreto. Fazendo da minha vida algo menos planejamento estratégico e mais mão na massa. E estou adorando!
---Aliás, preparem-se porque creio que em breve teremos também uma máquina de fazer macarrão em casa. Então, de assessora de comunicação talvez eu consiga me transformar em um híbrido de artesã taróloga chefe de cozinha alquimista paisagista decoradora de (vidas) ambientes. Ufa...rs
---Tô feliz...
---Ah! Olha que lindos os anéis que estou fazendo! Aguardo encomendas! Estes em breve estarão na loja do Caminho do Artesanato. Pra quem for de São Lourenço, é só dar um pulinho na Aldeia Vila Verde, loja 62 (mãe, nem vou cobrar pela publicidade). Pra quem não for daqui... hummm... a gente despacha pelo correio! É só escrever cmg@starweb.com.br

Os primeiros sinais da primavera

---Como todos sa- bem (ou deveriam saber), a natureza não funciona que nem reloginho. Aliás, essa coisa de hora certa e absoluta, marcada com precisão, é coisa do bicho homem, macaco sem rabo. Na natureza as coisas acontecem de uma forma toda pró- pria, sem hora marcada e sem algum chato, batendo com os dedos no relógio de pulso, pra avisar que você está atrasada (sinto algum rancor no comentário? Nãããão...imagina!) De fato, nunca me entendi muito bem com Cronos, eu e hora certa não somos muito amigas.
---Então... Então que os pés de rúcula já estão dando flor! Aliás, não somente eles. Meu quintal já está ensaiando a explosão orgástica da primavera. Hehehe! As amoreiras estão absolutamente lotadas de frutas, por enquanto são quase que umas florzinhas esquisitas, mas em breve serão amoras polpudas e da cor mais bela que há!
---Por enquanto, ficamos com as flores de rúcula que agora enfeitam a mesa da cozinha.

Thursday, August 09, 2007

Livro das Sombras

---Em fase de artesã, continuo descobrindo o prazer de criar coisas fofas em geral e às vezes coisas mais radicais.
---A criação da vez foi uma capa de feltro decorada para um caderno espiral, meu novo Livro das Sombras. Na verdade, nunca consegui ter um Livro das Sombras daqueles tradicionais, acabo escrevendo várias coisas como sonhos, percepções, intuições, além de receitas de chás, banhos, incensos, etc.

Sunday, August 05, 2007

Lá vem o sol...

---Depois de uns 20 dias de frio intenso, o sol resolveu comemorar o sabath de 1º de agosto na real, ou seja, retornando mesmo! Que bom! Não aguentava mais passar 24 h por dia cheia de casaco e com pilhas de cobertores em cima para conseguir dormir a noite.
---Agosto começou bem, meu ano novo idem. Estou tão feliz que às vezes parece que estou sonhando. O detalhe: sem maiores razões externas, o que é bacana... sinal que a felicidade está dentro e, portanto, não pode ser abalada por outra pessoa que não seja eu mesma.
--- Que venha o sol!

Ho!!!!!!


---Segundo a tradição xamânica BF tirar fotografias faz com que nossa alma seja fragmentada e algum louco pode querer roubá-la (pra fazer o que, não se sabe!). Portanto, essa é a única foto do meu aniversário permitida para a divulgação pelo controle do departamento de segurança da BF (I)ltda!
---Ho!!!!!

Ai, ai, ai!!!! Estou atrasada!!!!

Tantas coisas já aconteceram!!!
Inclusive meu aniversário!!!!
Corre, corre!!!!
O coração me guia, mas meu relógio sempre atrasa!

Friday, July 20, 2007

Receita pra ganhar beijinhos

---Não sei como a coisa funciona em casa alheia, mas na minha casa comida gostosa merece beijinhos! Não na comida, claro, mas na cozinheira! Eu, no caso! rs Aliás, bastariam os suspiros que o Fernando dá quando come em deleite algum quitute que eu faço, mas, como sou uma garota sortuda, eu ainda ganho beijos, elogios e carinhos. Ê, vida boa!!!
---Para quem quiser tentar para ver se dá certo em casa, vou passando algumas receitinhas que costumo fazer e que sempre agradam. A de hoje foi meio na pressa, depois de passar metade do dia limpando e arrumando a casa e a outra metade redigindo um projeto de comunicação para entregar na segunda-feira, mas ainda assim ficou muito bom o resultado. Pra quem não gosta de perder tempo na cozinha então... melhor ainda!
---Espaguete "Até que enfim é sexta-feira!"
---Ingredientes:
---meio pacote de macarrão (o Fernando gosta mais de espaguete, mas pode ser de outro tipo...melhor descobrir que tipo de macarrão a "vítima" prefere)
---3 dentes grandes de alho
---1 maço de rúcula (gente, não é pra botar inveja não, mas a minha eu colho no quintal, rs)
---1 galhinho de manjericão (idem...rs)
---1 lata de atum light (daqueles em água e sal)
---meia lata de molho de tomate
---um pouco de orégano, um pouco de sal, um pouco de pimenta (fiz um molho de pimenta leve e costumo usar pra isso, depois eu passo a receita também)
---Como fazer:
---Cozinhe o macarrão e escorra. Numa panela coloque um pouco de óleo de milho, o alho picado e refogue. Depois acrescente aos poucos, mexendo sempre, a rúcula, o atum, o manjericão e o molho de tomate. Se vc fez o macarrão al dente então é legal porque dá para colocar um pouquinho de água, jogar o macarrão na panela e mais os temperos e deixar ferver um pouquinho. Mas só um pouquinho!
---Com um vinhozinho vai muito bem depois de um dia agitado!

Tuesday, July 17, 2007

Uma simples margarida...

---Pois bem que minha amiga Cris recebeu o con- selho e passou adiante: a grande sacada é ser uma simples margari- da!!!
---Durante um tempo eu nem quis acreditar, pois estava tão viciada na minha postura atu- ante, militante, descolada, ques- tionadora... blablablá... que não podia acre- ditar numa exis- tência sem isso tudo e o stress que isso nos traz. Incrível descobrir que existe vida além do papo-cabeça! rs
---Estou adorando esses meus dias de simples margarida!!!! Estou colocando meus conceitos de pernas pro ar e meus pés descansam pra cima (literalmente! Olha a foto!) enquanto eu costuro, bordo, desenho (na verdade, é uma tosca tentativa), uso meus lápis-aquarela, faço doces deliciosos para os meus amores e leio, enquanto bebo vinho... ou curto o sol se pondo na varanda... ou mexo na horta, desbasto as cenouras, colho rúcula... ah, sim, e namoro. Porque é sempre bom namorar quem a gente ama, principalmente se ele mora com a gente e nem é preciso sair de casa para encontrá-lo!
---Retorno ao trabalho no dia 30, mas num ritmo bem mais suave. Ainda assim, depois de passar esses dias maravilhosos, dá para entender o que a Lília quer dizer quando colocou o nome do seu blog de "vadiando". A palavra, que teria uma conotação negativa para mim, há algum tempo, hoje me parece muito agradável. Bem que meu pai dizia que eu tinha sido contaminada pela síndrome da revolução industrial e não conseguia parar de produzir (ou ao menos pensar em produzir)! Mas estou em tratamento e, em breve, estarei curada. Às vezes nos preocupamos tanto em fazer coisas que nos esquecemos de, simplesmente, viver. Tenho vivido.

Tuesday, July 10, 2007

O Bosque Encantado


---Engraçado... Eu sempre tive o hábito de abraçar árvores. Desde criança! Mas parece que nos últimos anos, quando a seriedade e a melancolia baixaram por essas (minhas) bandas, me esqueci desta atividade de integração com a Natureza...rs
---Que bom que relembrei!!!

---Eu e Fernando descobrimos um bosque muito lindo, pertinho da nossa casa e agora é nosso lugar mágico de estimação.
---Aproveitei para colher pinhas e bambus que estavam caídos pelo chão, pedindo, é claro, autorização para o elementais do local. E é bom pedir mesmo, porque ali é possível sentir a presença de guardiões, de olho, vendo o que se faz.
---O que é mais surpreendente é que esse bosque fica entre uma rua de terra - meio escondida, mas dentro do bairro onde moramos - e (pasmem!) um tipo de boate ou forró, ou as duas coisas juntas, chamada de "Escondidinho". Não sei como aquela área ainda consegue estar tão preservada! Os elementais-guardiões devem ser mesmo muito competentes!

Wednesday, June 27, 2007

As flores de crepom não morrem!



















Numa rápida tentativa de imortalidade, retornei às flores de crepom. Isso me relaxa... E depois quando vejo o resultado, fico encantada com as cores e encantos de algo que parece ganhar vida depois de algumas dobras, cortes e apertos.

Elas vão para a lojinha da mamãe - Caminho do Artesanato - e de lá para o mundo, tal qual suas irmãs e primas, que também se hospedaram por lá durante algum tempo.

Estou em fase de criação... Gerando filhotes *BFs, que se espalham por todo canto. Faz bagunça, mas é bom. Sinto falta da capacidade de gerar beleza. Em breve teremos mais filhotes de raças e tipos diferentes. Uns vão pra loja outros ficam aqui, outros viram presente.
O sol está fraquinho lá fora e mais forte é o calor da cadeira vermelha do Fê.

Dois dias para o início do inferno astral... deve ser isso...


* BF = Bicho Fofo... uma linhagem de seres encantados que se caracterizam pela incrível capacidade de amar e rir. Também existem réplicas de BFs confeccionadas através de trabalhos manuais e até mesmo em produção industrial. Na verdade, BF tornou-se um conceito de tudo aquilo que é bicho... e é fofo...

Wednesday, June 13, 2007

Viva Mariazinha e seu colega de quarto mal-humorado

Santo Antônio tornou-se popular como santo casamenteiro. Talvez por nunca ter tido muito problema neste departamento, sempre me interessei pelo lado mais, digamos, "hardcore" de Santo Antônio!!!

Há muitos anos, minha mãe me escreveu esta oração, que os antigos chamavam de "responso". Se não me engano, ela encontrou isso nos alfarrábios da família, em meio a livretinhos de oração e outras pistas perdidas (e achadas) da mística genética que nos anima. Minha mãe, com sua sagitarianice, me dizia: "muito forte isso!" e é mesmo! Fortíssimo, fortérrimo!!!! Daquelas coisas que a gente vai recitando e os cabelos fininhos da nuca vão arrepiando... arrepiam até fazer tremer os joelhos e o couro cabeludo. Ui! Muito bom!

Eu recomendo!


RESPONSO DE SANTO ANTÔNIO

Se milagres desejais
Recorrei a Santo Antônio
Vereis fugir o demônio
E as tentações infernais
Recupera-se o perdido
Rompe-se a dura prisão
E no auge do furacão
Cede o mar embravecido
Todos os males humanos
Se moderam, se retiram
Digam-no aqueles que o viram
E digam-no os paduanos

Recupera-se o perdido...

Pela sua intercessão
Foge a peste, o erro, a morte
O fraco torna-se forte
E torna-se o enfermo são

Recupera-se o perdido...

Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo

Recupera-se o perdido...


Rogai por nós, Santo Antônio

Para que sejamos dignos das promessas de Cristo


Salve os compadres! (que eu chamo de tias e tios)

Tuesday, June 12, 2007


Feliz Dia dos Namorados!!!. . . . . . . . . . . . . . . . . . .



E se não tiver alguém ao lado, que seja então sua melhor companhia.

Wednesday, June 06, 2007

Balada da Louca

Às vezes eu acho que estou enlouquecendo... mas talvez esteja só amando.

Puxo um questionário mental e vou colocando o "ok" ao lado de cada ítem:

Muitos suspiros? ok
Anda sonhando acordada? ok
Sente as pernas amolecerem diante de um encontro inesperado? ok
Ri por bobagem? ok
Sente uma estranha sensação de felicidade sem razão aparente? ok

O questionário se estende longamente e todas as perguntas recebem um "ok".

Blablablá... nhenhenhén... tudo aquilo...rs Eu quero muito e mais. Até apelidos fofos e várias datas comemorativas para vários começos. Saudade de 9 horas de distância, como se fossem meses! Fazer declarações pudins-bolos-pães-de-amor-doce. Treinar "beicinho" pra ganhar massagem e ficar até tarde conversando (e há tanto a dizer!), como se o sono fosse uma viagem que nos colocasse distantes. Seria capaz de contar mil razões para amá-lo ainda mais e ainda assim pareceria pouco. Porque tem horas que parece que nem cabe dentro de mim, tanto amor e tão intenso, mas então eu suspiro e rio... e percebo que ainda cabe mais um pouco, e mais um pouco, pra sempre.

Monday, June 04, 2007

A maravilha de ser mulher!

Eu acho muito incrível ainda conseguir rir de coisas, que numa situação normal seriam razão de tristeza. Tenho feito isso constantemente. Quando o despertador toca às 7 horas e eu preciso sair da cama, onde estou confortavelmente instalada, tão quentinha de cobertas e de amor, minha vontade é chorar... ou fazer pirraça, que nem criança! Mas lá vou eu... me arrastando. Saio de casa sem querer sair, deixando pra trás tudo que mais amo na vida: meu filho, meu marido, casa, livros, jardim, panelas vermelhas luminosas prontas para a alquimia e tantas coisas para enfeitar e mudar de lugar.

Como nunca saio na hora certa, pois a vontade de ficar vai me atrasando aos poucos, sou obrigada a descer a ladeira correndo e engrenar passos rápidos, numa corridinha discreta pela rua principal até o ponto de ônibus mais próximo. Sem a corridinha, a chance de perder o ônibus é grande!

Por causa da corridinha já conquistei alguns benefícios: várias criaturas, conhecidas ou não, sensibilizadas pela minha correria matutina, pararam o carro e me ofereceram carona. E no dia seguinte, quando tudo levava a crer que eu tomaria jeito e sairia de casa mais cedo, repito o atraso... Que culpa eu tenho de ter um lar tão aconchegante e uma família adorável?! Em pensar que passei minha adolescência e grande parte da vida adulta desejando e batalhando por uma vida profissional movimentada, que me deixasse longe dos serviços domésticos (castigo de quem não tem talento e nem capacidade de desenvolver uma bela carreira profissional, segundo os meus conceitos naquela época) Hoje, daria tudo para restringir minhas atividades extra-casa a tímidas 4 horas/dia, para poder criar meus textos, dar consultas e aulas, cuidar da família e do espírito... tudo em casa, meu templo, meu reino...

Enquanto isso não acontece, continuo saindo de casa às pressas, correndo pelas ruas e rindo muito, lembrando da música tema do seriado "Mulher Maravilha" Me sinto a própria! Porque, realmente, tem que ser uma super-heroína para ficar tanto tempo longe de tudo que eu mais amo.

Tuesday, May 22, 2007

Amores, amoras e morangos

Tenho achado esta experiência de amar muito estranha. Tenho achado, cá pra nós, tudo em relação a todos (inclusive eu mesma) muito estranho. Então parei de tentar explicar e buscar a lógica. Simplesmente sinto! Mas o que a gente faz com aquilo que a gente sente, mas não gosta?

As amoreiras do meu quintal, desrespeitando os ciclos da Natureza, estão repletas de frutos às vésperas do inverno. Por que eu, desrespeitando os ciclos da minha própria Natureza, não posso agir como uma adolescente?

Nem que seja uma vez por semana! É assim que quero... É assim que gosto...

Não me permiti tantas coisas durante a vida (pelo menos até agora), e quando me permiti, na verdade, apenas fechei os olhos e me omiti da responsabilidade de meus próprios atos. Tem um algoz perdido em algum lugar da minha cabeça e ainda não reuni forças para expulsá-lo de vez. No máximo coloco-o de férias, mas logo vem ele de volta... gritando dentro de mim.

O problema não está lá fora, mas aqui... Por isso choro às vezes, igual ao céu cinzento que me emoldura agora.

Nessas horas dá vontade de comer morango com creme ou chocolate e beber vinho ou beijos do meu amor. Dá vontade de não ter tantas vontades e ainda assim sorrir. Amores, amoras e morangos... São todos frutas... nem tão doces...

Tuesday, May 01, 2007

O que há comigo?

Certa vez, briguei feio porque me dis- seram que eu era tão inquieta, mas tão inquieta, que quando tudo parecia perfeito eu arrumava uma razão para ficar infeliz. Talvez so- mente pelo desafio de superar o conflito do momento e re- tornar à, nem sem- pre confortável, sen- sação de felicidade.

Achei um insulto esta afirmativa! Na minha tradução simultânea, de português pra português, estavam me chamando de neurótica. Mas hoje, refletindo com calma, acredito que havia e há um tanto de razão naquela exótica acusação. O estado de felicidade plena me assusta de uma forma inexplicável. Quando tudo parece estar estranhamente em seu lugar, tudo em harmonia, tudo sincronizado e no coração um calorzinho dizendo, como Dorothy, que não existe lugar melhor que nosso lar... Deuses! É porque a cortina está prestes a se fechar, o The End vai se fazer notar ou então, pior, vem por aí a virada da história, a parte do final supresa digno de Shyamalan.

Também existe uma outra possibilidade: algo inconsciente em mim se sente na obrigação de interferir no andamento das coisas. Se tudo está péssimo, tenho que tomar providências! Se tudo está ótimo, também... O que nos leva a crer que a mente humana é dada a disparates e incongruências. Deve ser mesmo a tal mente do predador.

A loucura de hoje foi a busca da arte e do belo, aventura antiga na qual costumo me lançar e sair sempre arranhada e frustrada. Meu irmão ficou com a melhor parte dos talentos genéticos da família: o desenho e a pintura. Para mim restou encher os balõezinhos... Uma colega sofredora, operária das letras (como costumo chamar a "peãozada" com diploma de jornalismo) repete que "jornalismo é ofício" e isto, apesar de ser uma realidade, tira ainda mais qualquer conotação artística de nossos atos diários.

Enquanto tantos se orgulham de sua produção intelectual, eu fico chorosa e inconformada de ser tão inútil dentro do universo pós-Revolução Industrial: eu não produzo nada de concreto! Porque pensar e escrever é tão abstrato... Penso obras de arte, mas não sei construí-las. Imagino vestimentas e até sei costurá-las mentalmente, mas na hora de encarar o corte de tecido e a máquina, chego no máximo ao furo no dedo. Isto sem falar na angústia de não conseguir traçar duas linhas retas e paralelas, nem com a ajuda de régua! Até hoje não sei como passei no psicotécnico para tirar carteira de habilitação.

Enfim... Pensar eu até penso (apesar de certas criaturas afirmarem que "penso mal"), escrever, eu escrevo... Planejar, organizar, administrar, fazer projetos... Nossa! Sei fazer todas essas coisas profundamente subjetivas e (in)visivelmente abstratas. Mas de concreto mesmo só a dor de cabeça que me dá quando entro nessas discussões, sejam internas ou externas.

E agora, que já acabei de pensar, organizar as idéias e escrever (produções mágicas do abstrato) - ufa!!! exorcizei! - vou para a parte mais gostosa e realmente bela: procurar uma imagem que ilustre isso tudo e sonhar com o dia em que serei capaz de desenhá-la.

PS: e como a sábia sincronia nunca me deixa sem resposta, sem querer parei num site que fala sobre Frida Kahlo e fui obrigada a relembrar outros sofrimentos e torturas, bem mais concretos, de alguém que concretamente produzia a beleza e os horrores dessa vida. Com essa, fico quietinha com minha medíocre felicidade por mais algum tempo.

Monday, April 30, 2007

Magia simpática e bonita


Tenho pensado em tantas coisas nos últimos tempos, que chego a ficar tonta. É estranha a sensação de que estou despertando somente agora, como se não tivesse vivido antes, pelo menos não com este nível de lucidez e entusiasmo. Será que a vida começa mesmo aos 40?


A última novidade que tenho para contar está nos fundos lá de casa... Meu lindo jardim mágico! Passei o final de semana plantando mudas e sementes, molhando, remexendo a terra e conversando com o invisível. Meu lado sonhador ousaria afirmar que seria capaz de viver fazendo somente isto: mexendo em jardins. Mas tenho a consciência de que a síndrome de abstinência das palavras, a fome de pensamento e a sede do discurso crítico me deixariam morrer à míngua, lentamente.


Só que por estes dias, às vésperas de nascer e enfrentado as mais exóticas adversidades, estou cercada de vida aromática e ervas amorosas. “Há flores em tudo que eu vejo!” E este acaba sendo o melhor antídoto contra malefícios. Recebo em meu útero-caldeirão os melhores ingredientes para o encantamento e protejo meu lar distribuindo uma pitada de amor em cada um dos quatro cantos.


“Meu amor... você me dá sorte na vida...”

Thursday, January 25, 2007

Nestas manhãs chuvosas de verão...


Estou olhando, através da janela, as árvores felizes com a chuva (alguém tem que estar, né?) e fico pensando que a vida é algo muito engraçado. Tudo é tão efêmero... coisas boas e ruins. Quando falamos do que é efêmero, da fragilidade da existência de todas as coisas, imaginamos sempre a crueldade de Deus que nos arranca tão precocemente as coisas boas que conquistamos. Se o excessivo apego não nos cegasse, conseguiríamos perceber que esta constante mutação da existência também nos leva momentos ruins, pessoas ruins, sentimentos ruins... ou simplesmente muda aquilo que já passou da validade.

Já deixei tanta coisa pra trás... Coisas boas, coisas ruins, coisas com prazo vencido... Mas tenho algo de nostálgico em mim. De vez em quando, principalmente nestes dias de chuvas que têm sido constantes, fico olhando pela vidraça do trabalho (tenho a bênção de ficar de frente para uma árvore frondosa, cercada de outras tantas árvores menores) ou pela janela de casa, admirando a capacidade que a chuva tem de arrancar aromas da terra, das plantas, de mudar o cheiro e a temperatura do ar. Nestas horas eu me lembro de tantas coisas e pessoas que passaram pela minha vida. Isto é bom.

Gosto da minha bagagem, minhas tranqueiras emocionais que o Fernando sempre diz que preciso despachar. “apague a história pessoal! Apague a história pessoal!”, esta é a orientação dos xamãs, mas, penso eu, se não ficarmos por demais apegados a ela, por que não guardar algumas fotos, alguns filmes mentais? Ou talvez melhor ainda: sem guardar nada, ainda assim fechar os olhos e relembrar... para depois, suavemente, libertar as memórias e deixá-las bailar soltas sob a chuva.

Já vivi mais no passado. Também desejei fervorosamente que o futuro chegasse logo, já que o presente me fazia sofrer tanto. Mas, atualmente, estou vivendo o aqui e agora de uma forma totalmente nova para mim. Nunca tive tanto prazer de viver e a vida assim, exatamente do jeito que está, tem tido gosto de sexta-feira à noite... aquela coisa cheia de uma preguiça sedutora e de expectativa pelo que vem a seguir, tranqüilidade e ação combinadas com harmonia. Não tem um dia que não seja bom, não tem um dia em que não acorde e vá dormir feliz, em especial pela maravilhosa companhia que dorme ao lado.

Esta consciência tão ampla e lúcida do viver no presente é que tem me permitido uns minutinhos de nostalgia, quando o barulho da chuva atrapalha os pensamentos concretos e lineares de algum texto que está sendo escrito. A vidraça é um bom portal da memória... E entre as gotas brilhantes de chuva que escorrem na janela eu descubro um sorriso, um gosto de torta de maçã, o cheiro do perfume de um homem que já amei, meu filho mexendo dentro da minha barriga, a pele quente depois de um dia na praia, a emoção de um reencontro... como um mosaico, tudo surge na minha frente. E o mais incrível é que consigo, em seguida, deixar cada uma dessas lembranças refletidas nas gotas de chuva da janela e volto à minha vida presente, prazerosa e bela, porque o melhor lugar do mundo é aqui e agora.