Saturday, March 19, 2016

Para diferentonas e diferentões, com amor

O Pitacos está meio abandonadinho tem anos! Mas este é um blog que carrega várias lembranças bacanas, um tipo de diário virtual. Tem imagens, poesias, reflexões, receitas e jardins. Eu gosto.

Tenho escrito bastante no Facebook, mas nos últimos tempos ele parece ser um campo de guerra. E no blog principal, o Via Tarot, apesar de incluir visões particulares sobre vários temas, não gosto de postar questões polêmicas, pelo menos não se elas não estiverem associadas aos temas principais: tarot, oráculos, consultas, amores...

Então, diante de tanto que se debate (e se bate) em relação à política nacional e da inutilidade de tentar apaziguar os ânimos, resolvi vir aqui, no meu cantinho e falar não de questões políticas ou partidárias, mas de como eu sinto e penso em relação à vida, que faz a base de todas as minhas opiniões políticas.

Não gosto de rótulos, nunca gostei. Talvez por nunca ter me encaixado em grupos, conceitos e ideologias. Há sempre em mim um desconforto de representar ou me fazer representar por uma sigla. E todas as vezes anteriores que isso se fez necessário ou que decidi por seguir esse caminho a sensação não foi legal.

Muitas vezes, pessoas tão próximas de mim não compreendem meus processos. Eu considero comer um dos atos mais prazerosos desta vida, mas como pouco, muito pouco e não me mobilizo por comida, muitas vezes até me esqueço de comer por estar envolvida em alguma atividade que me encante. Eu considero a liberdade uma das coisas mais importantes que existem, mas nunca me incomodou estar comprometida com alguém, talvez porque eu me sinta segura em relação a minha própria liberdade. Eu sei que dinheiro é algo fundamental para se viver, mas tenho certeza que um celular mais moderno ou um carro importado não me farão mais feliz. Pra ser sincera, esses são dois itens que não me dizem muita coisa, quase nada. Um telefone que me permita falar com as pessoas que eu amo e tirar umas fotos e um carro que seja econômico e pequeno me agradam bem mais.

Gosto de roupas, mas gosto muito mais de garimpar peças interessantes em um brechó. Sapatos? Dez pares são mais do que suficientes, quase um luxo! E entre um apartamento de acabamento refinado e uma casa mais simples, mas com um belo quintal com frutíferas e canteiros de ervas e flores, sem dúvida eu ficaria com a segunda opção. Meu luxo são livros, Netflix, cristais, vidros com ervas, óleos essenciais e os fitocosméticos que eu mesma faço. Luxo, pra mim, são pequenas antiguidades de família... Caldeirões de cobre, panelas de barro e alguns utilitários de cozinhas, aquelas frescurinhas tão práticas... Luxo é uma playlist daquelas para caminhar e assistir a vida correndo em meio ao céu azul e as flores, que nesta cidade que escolhi pra morar são abundantes.

Não quero um emprego para ganhar fortuna e ficar trancada em um escritório o dia inteiro. Não quero ser famosa, não quero ser pop star. Não quero ganhar tanto que precise me preocupar com dinheiro, quero o suficiente para não precisar pensar nele. Não quero a maior parte das coisas que a maioria ambiciona, mas quero coisas que são muito mais preciosas. Pra mim. Só pra mim.

Sempre me arrepio quando alguém usa palavras aparentemente inofensívas: progresso, sucesso, subir na vida, cidadão de bem... Elas ganharam conotações, no mínimo, duvidosas para mim no decorrer da vida. Acho que poder de compra não é qualidade de vida, mas acho que muitas pessoas deviam ter coisas que antes não tinham. E acho que criticar a elevação do poder de compra de pobres e miseráveis é cômodo, muito cômodo para quem já usufrui dessa vantagem há gerações.

Eu sei que nem tudo que é certo é justo e nem tudo que é justo é certo. Especialmente porque esses são conceitos que mudam de acordo com a época, a cultura e a cabeça de cada um. Mas sei a importância do que é sábio, do que é solidário, do que considera um ser humano mais importante do que qualquer ideologia. Mas sei também que o que chamamos de ser humano ainda tem uma parte muito imatura, muito egoísta, egocêntrica e, de acordo com as últimas evidências, muito pirracenta, muito agressiva. Quando a empatia for talento e dom de todas as pessoas, o mundo se transformará.

Não acredito em mudanças que venham de um governo, de uma religião, de uma ideologia. Acredito na transformação pessoal, individual e na formação, por reverberação, de uma nova geração com uma nova forma de ser e de se relacionar com os outros. Eu acredito que é impossível ser feliz sozinho, não porque seja necessário ter um companheiro ou companheira para ser feliz, mas porque é impossível, pra mim, ser totalmente feliz enquanto eu souber que existem tantas pessoas infelizes no mundo. Eu quero ser feliz junto, quero que as felicidades se motivem e multipliquem, mas pra isso as pessoas precisam entender que felicidade não é limitada nem disputada.

Eu creio, de verdade, que não poderei influenciar o mundo se não faço meu jardim florescer. Não acredito que sou digna de lutar pela paz se faço guerra dentro de casa e com o meu vizinho. Se não posso ser justa e sábia com os mais próximos, como posso cobrar justiça e sabedoria dos outros? Eu peço do mundo o mesmo que ofereço, nem mais, nem menos. Eu rezo por equilíbrio e harmonia todos os dias. Eu vibro amor para todo mundo, até mesmo aqueles que prefiro manter distantes. E sempre que olho para o céu, lembro de pedir misericórdia e não justiça, porque não tenho a pretensão de acreditar que meu coração é leve como uma pluma. Não sou eu que tenho sabedoria o suficiente para julgar. O nome disso é humildade e é um bom exercício diário.

Esperar que um outro ser humano resolva a minha vida, resolva a vida de todas as pessoas é se recusar a sair da infância. Colocar a culpa de todos os erros nos ombros de alguém é estar cego para as suas próprias responsabilidades. Acreditar em heróis? Só se forem os da Marvel e da DC! Menos reclamação e mais ação. Menos guerra e mais amor, por favor. Mais respeito pela opinião alheia, porque é sempre bom só fazer para os outros o que se espera que os outros façam pra nós. E, principalmente, mais silêncio interior para que se possa ouvir a voz da alma e não do ego. Porque ela não costuma mentir.

Sei que não estou sozinha. Sei que existem muitas diferentonas e muitos diferentões como eu por aí... E é pra eles que dedico este texto, com amor, porque se queremos um mundo diferente, temos que começar aceitando e agradecendo nossas esquisitices. Se nascemos em um mundo em relação ao qual não nos adaptamos, é sinal que temos que mudar nossa vida, nossa casa, nosso bairro... Espalhar estrelas por onde passarmos para iluminar o caminho dos outros que ainda vêm.