Sunday, September 23, 2007

A vida começa aos 40!

---Passei muitos anos da minha vida agindo de uma forma que julgava ser a perfeita ou a perfeita para os outros (que são coisas distintas) e me esqueci de agir de uma forma perfeita pra mim (que é uma terceira coisa). O resultado não poderia ser pior: não era bom pra ninguém! Muito menos perfeito! Cerca de 100% de insatisfação na estatística...rs
---Nossas escolhas acontecem, normalmente, baseadas em falsas premissas ou premissas artificialmente criadas. Se isso acontece de forma consciente ou inconsciente, aí já é outro detalhe. Mas a verdade é que de um modo geral não fomos criadas para ter um propósito de vida, não fomos criadas para atender ao chamado da nossa essência, as exigências da nossa alma, e por isso acabamos sempre nesta situação: perdendo muito tempo (anos, décadas) com uma forma de vida que nada tem a ver com o que somos ou o que queremos. Depois disso, ainda temos que enfrentar um outro período de tempo para acumular coragem de mudar.

---Eu comecei a perceber o processo todo em torno dos 30, mas ainda foram precisos uns 5 anos quebrando a estrutura existente (separação, realinhamento de metas de vida, reavaliação profissional) e mais uns outros 5 anos para me reerguer como pessoa, porque nessa quebradeira necessária a gente também se quebra, se machuca... Eu diria que agora, aos 40 anos, é que estou dando início à vida que realmente faz sentido, àquilo para o qual nasci. Então, pelo menos pra mim, o velho ditado faz sentido: a vida começa aos 40!

Friday, September 14, 2007

AF e DF

---Certa vez, meu sábio amigo Ronald Fucs (que ele não me leia, senão ficará todo bobo! rs) afirmou, com um grau de seriedade incomum: "a vida das pessoas se divide em antes dos filhos e depois dos filhos!" Segundo ele, essa experiência mágica e transcendente transformava seres naturalmente preocupados com o próprio umbigo em criaturas mais conscientes da existência do outro, menos egoístas, mais generosas.
---Passado tanto tempo, e hoje com um filhote de 14 anos, sou obrigada a concordar com meu querido amigo. Não é que o fato biológico, puro e simples, seja capaz de tal transformação... até porque conhecemos criaturas que tiveram filhos mas não são mães, nem pais... No entanto, quando a maternidade e a paternidade acontecem, de verdade, elas mudam a nossa perspectiva de vida de forma avassaladora. Talvez seja esse o espetacular momento em que a pessoa mais importante do mundo não pode ser mirada somente em frente do espelho, aliás, normalmente ela dorme o sono dos justos, o sono dos anjos, aquele que ficamos velando como bobos.
---Nunca fui lá uma criatura de muitas frescuras... Mas depois que o meu filho nasceu percebi como certas coisas que parecem tão importantes no A.F. viram tolices no D. F. Como costumava dizer, uma pessoa que é capaz de me acordar três vezes por noite e não sofre uma agressão, nem que seja verbal, com certeza é muito especial.
---O tempo passa e vamos aprendendo a abrir mão do último pedaço do doce favorito, do lugar mais confortável, do tempo para ficar só, das saídas noturnas diante de um rostinho triste, do sono quando a dor de garganta ataca de madrugada... E percebemos que a felicidade de outra pessoa pode ser mais importante do que a nossa e a alegria de outra pessoa pode nos deixar mais felizes.
---É claro que também é preciso ensinar os filhos a compartilhar, a compreender as necessidades dos outros, inclusive dos seus pais. É preciso mostrar os primeiros rascunhos do que você já aprendeu e no futuro ele aprenderá: que o próprio umbigo não é o sol da humanidade. Mas não há dúvida que somente quem aprendeu o amor aos filhos consegue ter um vislumbre do amor divino, do amor essencial e desapegado. Tudo bem... é só um vislumbre... uma olhadela pelo cantinho da cortina levantada... Mas já é alguma coisa, algo a mais que o próprio reflexo no espelho.

Na moda, ou não...

---Esse período em casa tem me deixado muito reflexiva...Nesta fase de reavaliar tantas coisas na minha vida, tenho pensado que me incomoda muito a sensação de estar sempre atrasada. Talvez o fato de não ter tido a ousadia e a iniciativa de fazer certas coisas na época certa me colocaram pra fora de um processo que hoje floresce, frutifica, “virou moda”, tá no topo.
---Nos meus tempos de 17 anos, tinha três grandes paixões: cozinhar e criar novas receitas, pensar em novos objetos e novas utilidades para eles na decoração de uma casa e criar modelos de roupinhas (que nunca aconteciam de verdade, porque eu não sabia desenhar direito e, portanto, a costureira não podia ver meus pensamentos). Naquele tempo essas coisas eram chamadas de passatempo, algo pra fazer nas horas vagas. Então, quando fui escolher qual faculdade fazer a opção óbvia pareceu ser Comunicação, pois minha facilidade para escrever somada ao poder de observação e análise pareciam ser os ingredientes perfeitos para a profissão.
---Hoje, meus passatempos viraram profissões chics, bem posicionadas e rentáveis. Também ganharam novos nomes: Gastronomia (também tem a irmã pobre, Nutrição), Design de Ambientes e Moda, todos com direito a curso de graduação, pós-graduação e outras sofisticações. Sei que não se vive de “se”, mas...
---Pegando carona nestes pensamentos, também percebi que tenho um certo talento metafísico de prever movimentos culturais. Não, não é uma questão de estar antenada com locais de agito ou utilizar as cartas de tarot para prever as tendências. Simplesmente acontece! A última agora foi em relação a algo tão íntimo e pessoal quanto minha vida doméstica. Venho passando por transformações profundas, questionamentos antes inquestionáveis sobre: trabalho, carreira profissional, casa, família, talentos, gostos... Descubro que desejo muito mais um caminho de beleza, criatividade e extremamente doméstico, do que a tal carreira profissional de sucesso, para logo em seguida descobrir que não sou só eu. Caramba! As mulheres estão na contramão da história!
---Não sei se não estava mais satisfeita sozinha. O problema agora é esse negócio virar moda e eu ficar só na moda ao invés de ficar só na minha. Não que isso também seja problema, mas não confere com a realidade.
---Já que o plano A e o plano B já se foram, vamos agora para o plano C – de Cláudia – o plano para viver a minha vida, do jeito que quero e gosto.