Friday, September 14, 2007

AF e DF

---Certa vez, meu sábio amigo Ronald Fucs (que ele não me leia, senão ficará todo bobo! rs) afirmou, com um grau de seriedade incomum: "a vida das pessoas se divide em antes dos filhos e depois dos filhos!" Segundo ele, essa experiência mágica e transcendente transformava seres naturalmente preocupados com o próprio umbigo em criaturas mais conscientes da existência do outro, menos egoístas, mais generosas.
---Passado tanto tempo, e hoje com um filhote de 14 anos, sou obrigada a concordar com meu querido amigo. Não é que o fato biológico, puro e simples, seja capaz de tal transformação... até porque conhecemos criaturas que tiveram filhos mas não são mães, nem pais... No entanto, quando a maternidade e a paternidade acontecem, de verdade, elas mudam a nossa perspectiva de vida de forma avassaladora. Talvez seja esse o espetacular momento em que a pessoa mais importante do mundo não pode ser mirada somente em frente do espelho, aliás, normalmente ela dorme o sono dos justos, o sono dos anjos, aquele que ficamos velando como bobos.
---Nunca fui lá uma criatura de muitas frescuras... Mas depois que o meu filho nasceu percebi como certas coisas que parecem tão importantes no A.F. viram tolices no D. F. Como costumava dizer, uma pessoa que é capaz de me acordar três vezes por noite e não sofre uma agressão, nem que seja verbal, com certeza é muito especial.
---O tempo passa e vamos aprendendo a abrir mão do último pedaço do doce favorito, do lugar mais confortável, do tempo para ficar só, das saídas noturnas diante de um rostinho triste, do sono quando a dor de garganta ataca de madrugada... E percebemos que a felicidade de outra pessoa pode ser mais importante do que a nossa e a alegria de outra pessoa pode nos deixar mais felizes.
---É claro que também é preciso ensinar os filhos a compartilhar, a compreender as necessidades dos outros, inclusive dos seus pais. É preciso mostrar os primeiros rascunhos do que você já aprendeu e no futuro ele aprenderá: que o próprio umbigo não é o sol da humanidade. Mas não há dúvida que somente quem aprendeu o amor aos filhos consegue ter um vislumbre do amor divino, do amor essencial e desapegado. Tudo bem... é só um vislumbre... uma olhadela pelo cantinho da cortina levantada... Mas já é alguma coisa, algo a mais que o próprio reflexo no espelho.

2 comments:

Maria Cecile said...
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Maria Cecile said...

É a pura verdade. Quando o DF acontece, muda tudo. E não tem mais volta. Mas é uma mudança tão prazerosa e maravilhosa que vc agradece todos os dias.