Thursday, November 15, 2007

Da janela lateral do quarto de dormir

---Será que esta beleza toda sempre esteve aí e eu estou mais contemplativa? O período longe de um trabalho formal (o tal do emprego) está me fazendo tão bem! E não dá nem para dizer que estou sem fazer nada, porque as atividades não faltam! Cursos e consultas de tarot, o círculo feminino, o artesanato, o jardim e as ervas mágicas, o curso de roteirização e os novos contatos que surgiram a partir dele (e todas as possibilidades de projetos a serem desenvolvidos)... Enfim, tantas emoções...rs
---É muito bom poder acordar, a cada dia, com expectativas novas, com tempo para ser administrado de acordo com as minhas prioridades e não com as ordens do patrão. É prazeroso aproveitar o final de tarde para fotografar todos os céus e todas as nuvens disponíveis, nos mais variados tons. É reconfortante poder ficar do lado de dentro de casa, o lado quentinho, olhando a chuva bater na vidraça com a violência típica das tempestades de verão (que neste ano resolveram chegar na primavera). Não tem preço a possibilidade de ficar tão próxima da família, podendo conversar, brincar, cuidar das pessoas que amo. É divertido fazer comidinhas gostosas e ficar esperando o momento da primeira garfada, a hora em que o Fê faz aquela cara de "pára o mundo agora, só pra eu sentir este sabor!" É gostoso preparar um jantar surpresa para que o filhote pergunte: "o que está acontecendo? Pra que isto tudo?", apontando a mesa arrumada e as velas acesas.
---Procuro aproveitar cada um desses momentos, sem a ansiedade do apego, sem aquela angústia de contar dias, semanas, meses, sabendo que daqui a pouco serei chamada e terei que fazer parte, novamente, da massa que segue, como robôs, a caminho do trabalho todo dia de manhã (e ainda agradece a Deus por ter um emprego, afinal, quanta gente por aí desempregada). Eu não faço parte deste mundo, não faço parte da mediocridade, não faço parte da cultura robótica. Não sou cega. Não morri. E fico mesmo assustada ao observar a forma com que as pessoas vivem e acreditam, de verdade, que não há outro jeito.
---Estamos aprisionados, escravizados, condicionados. Realmente acreditamos que para viver é preciso entregar a alma junto com a carteira de trabalho e nem ao menos percebemos que, ainda assim, mesmo abrindo mão do tempo para ficar com quem amamos, tempo para aprender mais, tempo para cuidar da saúde e do bem-estar, o máximo que conseguimos é sobreviver, não viver.
---E, sinceramente, não sei o que é pior: viver assim e achar normal ou despertar.
---Quero ser livre. Ninguém perguntou como eu queria viver. Ninguém quis saber quem eu sou, o que quero da vida ou quais são meus sonhos. Como dizia Don Juan: não honro acordos dos quais não participei.