Thursday, December 03, 2009

PEDE PRA SAIR!!!!!!!!!!

Quando este auspicioso ano de 2009 começou, eu podia jurar que ele seria bem melhor do que os anteriores. Não pensei assim simplesmente por ser uma otimista por natureza, mas existiam fatos reais na minha vida que apontavam para horizontes bem mais luminosos. Eu já estava há um ano trabalhando como concursada na Prefeitura Municipal de São Lourenço, já estava dominando bem o serviço, já conhecia melhor os colegas de trabalho e, principalmente, o candidato em quem eu votei para prefeito havia ganhado!

Particularmente, sou contra a reeleição. Acho que, com raríssimas exceções (na verdade, nunca conheci nenhuma) os políticos que fazem um primeiro mandato bom, relaxam no segundo mandato. Claro! A maior motivação, que é a reeleição, não existe. Mas além desta, havia outra justificativa para eu votar no candidato que fazia oposição ao antigo prefeito. É que eu, do fundo do coração, acreditava que teríamos uma Prefeitura mais organizada, mais justa e que nós, funcionários públicos, seríamos mais valorizados. Bem... Pelo menos durante a campanha o “meu” candidato garantiu isso para todos nós, em diversas reuniões.

(Tudo bem, querido leitor, você deve estar se perguntando como que eu, uma moça estudada, jornalista formada, com 22 anos de experiência profissional, pude cair em conversa de político? Pois é... Pois é...)

Mas o fato é que eu estava sinceramente entusiasmada! Por mais que o cansaço de emendar um ano no outro me consumisse, por mais que eu me questionasse mil vezes o fato de não ter feito magistério ao invés de optar pelo velho “científico” (poderia trabalhar os 200 dias letivos dos professores! Ai, que bênção!), eu iniciei 2009 com a certeza de que tinha feito uma boa escolha na hora de votar! Imaginava que aquela promessa de reposição salarial de 20% + os 9% da inflação, logo em janeiro, não aconteceria exatamente da forma como o candidato apregoou, mas... (glória! Eu sou uma criatura paciente com quem começa um novo trabalho!) esperava que todas as outras mudanças positivas aconteceriam e a reposição de 20% acabaria chegando, mais cedo ou mais tarde.

Fazendo essa retrospectiva, chego a me sentir meio ridícula. Imagino aquelas cenas em que um bebê se delicia, agarrado a um pirulitão colorido e doce, e eis que um trombadinha arranca a guloseima das suas mãos e ele chora, literalmente, como um bebê. Nós funcionários públicos temos chorado feito bebês, enganados, injustiçados e esperando um milagre ou o Chapolim Colorado para nos ajudar.

Pois bem, passado o primeiro susto, tomamos consciência de que a mentira sai da boca dos políticos de forma tão natural, que nem eles percebem. Primeiro ensinamento que deve ser assimilado pelo eleitor. O segundo ensinamento, provavelmente, é: faça um pé de meia e invista numa faculdade de Direito para algum dos seus familiares. Nos dias atuais, um advogado é artigo de primeira necessidade para todo cidadão. Em especial quando a outra parte envolvida é o governo. Mais ainda quando o cidadão é funcionário público. Em São Lourenço então... Nusss! O mercado de trabalho tende a aquecer nos próximos três anos!

Mas... (vocês acham que acabou a história? Nããããão...)

Fomos atropelados por uma sucessão de acontecimentos que nos deixaram tão aturdidos, que agora, prestes a encerrar o ano, nos perguntamos todos: onde eles querem chegar?! Uma colega de trabalho me afirmou que o prefeito já disse que não pretende ser reeleito. Ah, bom... pelo menos ele deve saber que não rola de novo... não mesmo!

Resolvi, então, fazer uma listinha de alguns fatos básicos aos quais fomos expostos desde o começo do ano. Sei que estou falando pelos funcionários da Educação, pois os comentários em nossa rede de comunicação bate, tim-tim-por-tim-tim. Em relação aos funcionários de outros setores, só sei da insatisfação, da falta de organização, da pressão e falta de material, mas não seria capaz de falar dos detalhes sórdidos do dia-a-dia.

1) Até o ano passado, a rede municipal de ensino funcionava com cerca de 9 escolas e mais uma creche, as outras creches eram ligadas à Secretaria de Desenvolvimento Social. Eu fui brindada com uma situação muito estranha: era secretária de uma escola, mas ocupava uma sala em outra escola, a um quarteirão de distância. A secretária dessa escola – um tipo de “filial” – ficava na “matriz”, a uma distância de aproximadamente 1,5 km. Então, eu fazia todo o serviço da “minha” secretaria e mais boa parte do serviço da outra secretaria, tudo que não necessitasse do carimbo e da assinatura da outra secretária. Sempre achei isso um absurdo e aguardava ansiosamente a mudança de governo para que algo fosse feito. E foi!!!!! A confusão aumentou! Agora, existem várias escolas que funcionam com alunos matriculados em um lugar, freqüentando salas em outra unidade, secretários acumulando algumas turmas de outra escola e creches passando a responsabilidade da Secretaria de Educação... Cerca de seis das nove escolas e da creches, agora incorporadas, estão amarradas em um emaranhado administrativo de fazer qualquer criatura minimamente organizada surtar!

2) Se até ano passado eu acreditava que poderia haver mais organização na Educação, com as solicitações sendo feitas com mais antecedência às secretarias escolares e reuniões regulares acontecendo para esclarecer dúvidas e implantar novas metodologias organizacionais (olha que chic eu sou...), este ano, tudo que eu queria era só precisar fazer cada coisa uma só vez. Assim... Não precisar fazer seis listas de material pedagógico e de limpeza no decorrer do ano, sendo que nenhuma das seis listas foi atendida plenamente... tudo que eu queria era não precisar implorar por uma caixa de borracha ou pacotes de papel sulfite, como se fossem artigos de luxo, enquanto chegam dicionários de inglês para uma escola de ensino infantil (????!!!!!), canetas para quadro branco (onde não há quadro branco) e um número de pistolas de cola quente que daria para refilmarmos algum clássico de bang-bang. Tudo que eu queria era que recebêssemos informações precisas sobre o que vai acontecer na escola, para podermos orientar os pais quando eles nos procuram, ao invés de ter que respirar fundo e “calçar a cara” dizendo que não temos a menor idéia de como, onde e com quem eles poderão fazer uma matrícula, cujo início será daí a 10 dias. Ah, sim... Eu também gostaria de poder saber onde vou trabalhar no ano que vem, antes que o ano acabe, pois convivo com a sensação de que, qualquer dia, chego na escola e tem outro sentado no meu lugar.

3) Tenho certeza de que a maioria dos brasileiros convive com um certo nível de desorganização. Não somos ingleses... Chegamos sempre meio atrasados... Deixamos as coisas sempre um pouco fora de lugar... Mas também, por outro lado, somos flexíveis... Não temos uma natureza autoritária, ríspida, desumana... Por analogia, creio que a nova Administração é formada por híbridos de brasileiros (muito desorganizados) com alemães (pré II Guerra Mundial). Só tem algo mais desagradável do que chefias autoritárias... São chefias autoritárias e totalmente desorganizadas! Não entendo porque as pessoas confundem organização com burocracia... Excesso de papelada (relatórios e planilhas) nunca garantiu organização de nada! Mas gasta um bocado de tempo, papel e tinta de impressora, coisa que para um governo que conta moedas e até mudou a marca do café e regula o papel higiêncio para economizar, deveria fazer diferença!

4) Desde o começo do ano, vivemos em constante ameaça, sendo que algumas delas se concretizaram. Começou com a ameaça de passar de celetista para estatutário (perdendo TODOS OS DIREITOS GARANTIDOS PELA CONSTITUIÇÃO), com isso perderíamos o tíquete refeição – que apesar de miserável, ainda é alguma coisa -, perderíamos o fundo de garantia, perderíamos a certeza de receber uma aposentadoria (se a prefeitura não tem dinheiro para pagar coisas mais básicas, que garantia teremos que o fundo de aposentadoria administrado pela prefeitura estará lá?), e não conseguiríamos receber o vale-transporte, ao qual já temos direito legal, mas nunca recebemos. Ser estatuário é se entregar de corpo e alma ao Prefeito que estiver lá. E, como sabemos que o povo não tem cabeça boa na hora de votar (sou uma prova viva disso!), sabe-se lá que tipo de criatura vai ter o poder sobre o nosso corpo e a nossa alma.

5) Outra ameaça (que, temporariamente, virou realidade) foi a de tirar o nosso adicional de escolaridade. A justificativa é que só os efetivos é que tem direito e não quem está em estágio probatório. Só tem um detalhe: diz a lei que “o funcionário em efetivo exercício do cargo” passará a ESTÁVEL após três anos de estágio probatório. Ou seja, para virar estável, tem que ser efetivo. Então... Pois é... Já somos efetivos desde o momento da nossa nomeação. Mas, seguindo o padrão da atual Administração, vamos valorizar a classe dos advogados!!!!! Só tem conversa via DOUTOR!

6) Não satisfeito em torturar os concursados, nosso poderoso chefão resolveu exercer a sua valentia arrancando todos os (poucos) direitos dos contratados. Agora, ao invés de trabalharem com contrato de um ano, renovável; ao invés de trabalharem 6horas/dia e ao invés de serem celetistas, os pobres trabalharam com contrato semestral, 8h/dia e como estatutários... Mas peralá! E aquela lei federal que diz que não pode ter dualidade de regime? Ah, sim... Ela só serve no discurso para deixarmos de ser celetistas... E aquele negócio chamado isonomia???? Ah??? O que???? “Sei o que é isso não, moço!”

7) Quando pensávamos que nada poderia piorar, nova surpresa: para 2010, o prefeito pretende colocar todos os funcionários trabalhando 8h/dia. – Mas a maioria dos funcionários tem outra atividade profissional, para juntar as moedinhas no final do mês e pagar as contas! – Ah... problema dos funcionários, claro! Pensa que agora acabou? Nããããão... Parece que ele também não acha justo pagar qüinqüênio (ué... pensei que o que diferenciava o servidor público do privado eram esses benefícios, levando-se em conta que não temos como negociar salário, não temos aumento por produtividade e nem repartimos lucros)

8) Para finalizar (eu acho! Nunca se sabe quando eles inventam algo novo), parece que o objetivo é mudar totalmente o Plano de Carreira, que já não é exatamente uma “Brastemp”, arrancando os nossos direitos e nos prejudicando de todas as formas imagináveis. Ou seja, pretendem rasgar na nossa cara o nosso contrato de trabalho, mudar as regras do jogo durante o andamento do jogo, como uma criança birrenta que não admite perder uma disputa.

Creio que o resumo mais perfeito que ouvi sobre tudo que estamos passando desde o começo do ano, veio de uma professora aqui da escola: “o prefeito parece o Capitão Nascimento, do filme Tropa de Elite... Ele ta fazendo tudo isso e daqui a pouco vai gritar no nosso ouvido PEDE PRA SAIR!!!! PEDE PRA SAIR!!!!”

Se eu pudesse, juro que saía... Nem precisava gritar outra vez.

2 comments:

Pimenta said...

Puxa,puxa, o que eu posso te dizer pra você renovar a esperança do inicio do ano?
Já sei!
Vem aí um novo ano!
E as coisas no trampo podem até piorar, mas tenha certeza,VOCÊ VAI ESTAR CADA VEZ MELHOR, MAIS FORTE, MAIS SÁBIA E MAIS BONITA!
bjos!
fé e força!

Cacau Gonçalves said...

Oie!

Beleza, Pimenta?

Pois então... Este foi um ano duuuuro. Mas estou aprendendo a valorizar esta oportunidade de "revisar" algumas coisas aqui dentro. E uma decisão séria e preciosa foi a de começar a fazer terapia (ufa!rs)Porque me parece claro que, apesar de um número enorme de funcionários estar tão insatisfeito quanto eu, creio que raros, raríssimos (para não dizer só eu) chegaram a ficar fisicamente doentes em função disso. Ou seja, o problema está em mim, tem algo em mim que "engancha" com esta situação e permite que ela me atinja de maneira tão violenta.

A primeira sessão já rolou e parece incrível que tenha tido um efeito tão bombástico, levando-se em conta que não falei nenhuma novidade, aliás, tudo que falei lá já havia falado umas 3 dúzias de vezes aqui pro "sócio" (criatura paciente!rs)Doeu um pouco, mas foi bom... necessário.

Daí eu acho que vai rolar essa coisa que vc falou de me sentir cada vez mais mais super mega tudo de bom...rs

Obrigada, queridona, adorei a sua visita

beijo