Thursday, August 31, 2006

A sabeDORia que o tempo nos traz


Paciência nunca foi, exatamente, um talento que Deus me deu. Talvez, justamente por isto, tenho sido obrigada a desenvolvê-la nos últimos anos. O mais interessante é que não basta ter paciência e nem usar paciência. É importante fazer isto com o mínimo de dor possível. E como é difícil!

Tenho tentado exercitar a generosidade além da paciência. Pode parecer que estou fazendo cursinho para virar santa, mas é muito mais simples que isto: estou tentando ser feliz. Eu disse mais simples... Não disse mais fácil! E tenho percebido que estamos habituados a sofrer desnecessariamente. Sofremos mais pela expectativa da dor do que pela dor em si, não porque vivemos em um mundo de sacrifício, mas porque insistimos em querer ter o controle sobre tudo o tempo todo, o que inclui prever o futuro, com possíveis sofrimentos.

Hoje, Fernando me disse que sou desapegada. Gostaria muito de ser, mas não creio que tenha atingido tal nível de refinamento. Acredito que o que ele chama de desapego seja, na verdade, uma mistura de bom senso, exercício consciente de generosidade e uma boa dose de instinto de auto-preservação. Eu desato os nós antes que as cordas me machuquem. Só isto.

Viver não é um ato involuntário, não é algo que acontece de forma displicente. É preciso aprender a viver. E somente agora tenho a sensação de que estou ensaiando os primeiros passos. Se a vida não começa aos 40, talvez seja só um pouquinho antes!

Olhando para o passado, percebo que sofri tanto por razões tão tolas e tratei com descaso questões realmente importantes. Parece que vamos nos construindo a cada passo de uma forma muito sutil e incompreensível. No entanto, é tudo história pessoal e eu devia me desfazer dela, mas, afinal, o que restaria?

“Nada como um dia depois do outro, com uma noite no meio”, minha avó sempre diz. Me impressiona a sabedoria popular... O desastre de hoje, provavelmente será a tristeza nostálgica de amanhã. O grande amor impossível de um dia, acaba virando uma lembrança doce e distante, lá no fundo da memória. O conflito stressante, razão de riso. A saudade dolorosa, esquecimento anestésico. Tudo é passageiro, menos o motorista, o trocador e o tempo que implacavelmente é testemunha ocular dos ciclos. Perene, inatingível...

Ainda não adquiri o benefício da idade para dar conselhos, mas se pudesse dar algum certamente começaria minha lista por algo como: não sofra excessivamente, portanto não sofra, porque todo sofrimento é excessivo. Depois viria: perdoe sempre, se não puder perdoar, ao menos não fique memorizando a dor que alguém te causou. A dor fica com quem pensa nela e não necessariamente com que a sofre. O terceiro conselho certamente seria: permita-se sentir, permita-se acreditar, permita-se amar. Sem julgamento, sem crítica, sem sentimento de culpa. Passamos metade da nossa vida amando a queima roupa todas as criaturas que fazem os nossos sinos mentais tocarem. E a outra metade nos odiando porque somos assim: tão absolutamente idiotas. Meu terceiro conselho pretende evitar isto.

Depois viriam mil detalhes, porque pratico o pecado da minúcia... Não sentir pena de si; não amar mais os conceitos do que as pessoas; saber a hora de parar e a hora de começar; compreender que o coração sempre será mais sábio do que a razão, mesmo que na hora não faça sentido; não brigar com pessoas, somente discutir idéias; agradecer todos os dias, mesmo que não se saiba porque; praticar o riso sempre que puder, já que o choro costuma chegar de surpresa, etc...etc...etc...

A vida pode ser algo surpreendente desde que cada um se dê esta chance. Desde que não sejamos tão arrogantes a ponto de pensar que tudo está sob nosso controle. Nos últimos anos, o único momento em que “perdi o controle da situação” foi o exato instante em que dei o primeiro passo para ser feliz. É muito bom saber que podemos estar completamente errados, isto abre novas e incríveis possibilidades. E só a sabedoria que o tempo nos traz possibilita esta alegria de errar.

4 comments:

Na Transversal do Tempo - Acho que o amor é a ausência de engarrafamento said...

Vai escrever assim no infenro. Quase chorei.

De boa, o tempo nunca deu razão à covardiaTu tá certérrima.

Astrid Annabelle said...

Cláudia, foi uma grande alegria passear por seu blog e fotoblog.
Estou colocando seu blog na lista de links favoritos.
Você é uma linda pessoa.
Bjs.
Ma Jivan Prabhuta

Thaty Pereira said...

Oi Morgye!!!
Visitei seu Blog, li tudinho e ameiii!! Principalmente sobre o lance do desapego, me lembrei daquele nosso papo no MSN do qt fui doida de vender tudo o que tinha e ir embora!! haha valeu amiga, te cuida! beijosss

Unknown said...

Oi Linda
Vc escreve muito bem, acho que deveria escrever um livro, seria um sucesso. Parabéns pelo blog.
Beijos
Mônica do Companhia de Maria