Friday, August 25, 2006

Ética: a prática ridícula

Hoje, por razões nada agradáveis, precisei dar uma lida no Código de Ética dos Jornalistas e na Lei de Imprensa. Meu primeiro pensamento foi uma mistura de indignação e sarcasmo: eis aí dois documentos bem fantasiosos! Sei que cada profissão tem seu karma, mas só posso falar do jornalismo, pois trabalho nisso há quase 20 anos!
Não sei o que mais me impressiona: se a manipulação descarada dos empresários, donos dos grandes veículos de comunicação, ou a cara-de-pau de alguns coleguinhas, que juram de pé junto que ser um bom profissional inclui fazer grosserias, ser arrogante e mal-educado, ou pior, mau caráter. Isto, claro, quando analisamos a realidade das grandes cidades. No interior a banda toca diferente, mas igualmente desafinada.
Por estas paragens são-lourencianas, fico sempre indecisa quando tento analisar o que chamamos de imprensa. Muita gente bem intencionada, mas já sabemos que o inferno já está com sua lotação esgotada, e outros tantos completamente mal intencionados, alguns assumidos, outros dissimulados. Esta é a análise dos empresários, quando chegamos nos funcionários...bem... que funcionários???? De um modo geral, os veículos de comunicação aqui funcionam em esquema de empresa familiar, sem contratados, sem profissionais, óbvio, sem jornalistas (nem com experiência, muito menos com diploma). Dedução? Estes veículos também trabalham SEM NOTÍCIA.
Quem mora numa metrópole e lê estas minhas palavras tão irritadiças, quase rudes, pode pensar que se trata de puro exagero leonino, coisa de mulher “naqueles dias”. Eu gostaria que fosse, mas infelizmente não é. Os veículos de comunicação não comunicam... quando comunicam, trata-se de uma comunicação precária. Os releases que foram criados, se não me falha a memória, para fazer uma divulgação geral para a imprensa, dando apenas a base inicial de informações para que o repórter corra atrás e faça sua pesquisa, entrevistas ou cobertura do evento, por aqui vira matéria, no melhor estilo bate-pronto. O engraçado é que ninguém fica constrangido com o fato das matérias saírem todas iguaizinhas em todo lugar. Talvez porque ninguém leia, nem mesmo os donos dos jornais.
E aí, para piorar a situação, quando alguém fala de ética costuma confundi-la com corporativismo, uma das práticas mais degradantes que se vê por aí: verdadeira formação de quadrilha, com voto de silêncio, pacto de incompetência e união de irresponsabilidades, além de interesses em comum.
Que mundo torto este! Tudo bem que já desisti de ser a guardiã cósmica da ética, só lamento que eu tenha perdido a inocência em relação a isto tanto tempo depois das bombásticas revelações sobre a não existência de Papai Noel e Coelhinho da Páscoa, duas tão relevantes figuras do imaginário infantil. Se eu tivesse sido tão esperta na primeira situação quanto fui na segunda, talvez não tivesse sofrido tanto, por tanto tempo. Na verdade, cá pra nós e bem ao pé do ouvido, no fundo ainda sou uma tola que acredita que as pessoas “têm jeito” e que, no fundo, ninguém é tão mau assim e todos possuem um bom coração. Pena que tanta gente não faça a menor questão de me confirmar esta teoria.
Tenho, nos últimos dias, me lembrado muito do meu avô, que, nascido no começo do século passado, acreditava piamente que a palavra de um homem tinha valor. Hoje, vivemos em uma época que nem documentos por escrito, registrados em cartório e com firma reconhecida, querem dizer muita coisa. Ninguém liga pra sua honra, dignidade ou brio. O dito em um dia é desdito no outro, sem que nada pareça estranho ou incorreto. E as pessoas parecem estar enlouquecendo diante do seu tédio rotineiro, seu vazio interior, sua falta de ideais mais elevados ou mesmo de um amor que lhe aqueça a cama. Tenho me espantado bastante com a quantidade de gente louca com a qual sou obrigada a conviver.
Qual a solução pra esta balbúrdia toda? Não faço a menor idéia! Mas, com certeza, um bom começo seria se as pessoas parassem de se ocupar da vida alheia para fugir da sua própria infelicidade. Minha proposta seria que cada homem ou mulher procurasse olhar para suas próprias limitações, tristezas e carências e tentasse resolver isto. Depois, quem sabe? Uma mudada no lay-out? Um regime, um tratamento psiquiátrico, acompanhamento de eletrocardiograma e taxa de glicose, porque quando o coração reclama e o corpo precisa quebrar a amargura com açúcar, tem algo de errado acontecendo. E não é com os outros.
Enfim... Fico eu aqui palpitando, querendo dar jeito no mundo, quando não consigo dar jeito nem na sala onde eu trabalho! Mas é que me parece muito estranho que o ridículo seja agir da forma correta, honesta e justa. E o bacana tenha se tornado a atitude cínica, sarcástica ou sacana. Ah, se meu avô ainda estivesse vivo... o pobrezinho, aí sim, morreria de desgosto... por ver o quanto vale, nos dias de hoje, a palavra de um homem.

1 comment:

Na Transversal do Tempo - Acho que o amor é a ausência de engarrafamento said...

Escrevi algo osbre estes dias, a imprensa me irrita profundament epelo mau caratismoe por esta rlonge do dever d einformar.